Devora-me

Secretária
Devora-me a tua boca.
Toda ela.
Se perca em meu corpo.
Em todo ele.
E assim inteiro perdido encontre-se no meu desejo,
desejo crescente, em mim.
Sem pressa, sem medo,
Deixa eu sentir tua textura, na ponta da língua,
desfalecer nos seus braços, devorada por seu desejo,
embriagada por seu contato,
pelo seu cheiro e sua força em mim.
Deixa que eu me perca no seu olhar, no seu sorriso,
sem ontem, hoje ou amanhã.
Só este agora desmedido e incontido, perdido.
Deixa eu te sentir
No dente, na pele, na unha, no gosto, no cheiro.
Sem tempo,
sem rótulos, sem marcas, sem restrições.
Deixa que o depois se perca, e que nunca o encontremos
Que o agora seja tudo e o depois uma mentira.
Que importa os nomes? Os endereços?
Que importa todo o resto se tua boca me devora?
Que importa os caminhos, os minutos, o relógio a distancia,
Que importa um ontem inexistente, um amanhã incompleto se o agora nos bastar?
Que importa todo o resto e todo o mundo se a tua boca me devora?
Devora-me.
Com tempo e sem paciência.
Com insistência e sem receio.
Com gosto, com força, com jeito.
Devora-me até que eu me perca completamente,
Sem destino, sem caminho, sem meios, só encontrada em ti.
No meio de ti.
Devora-me de Eliana Klas é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Based on a work at www.aspirinasurubus.blogspot.com.
Adorei a forma com que tratou da sensualidade. É um revelar íntimo que se faz intenso e passional... é um grito apaixonante que se permite e se configura numa combinação de diferentes sensações (sinestesia purta!). Amei o texto, Klas! Abraços! Reina
ResponderExcluirNem paixão, nem amor. Sexo puro. Seu texto jorra sensualidade. Daquelas de tirar o fôlego, de tremer as bases, de ranger os dentes... texto ESPETACULAR!
ResponderExcluirhj não posso dizer q seu texto é uma prosa poética...é poesia pura...Um eu lírico provocativo ordena que o outro o devore. Me fez lembrar de várias canções, e, principalmente, do poema " Arte de amar" do Bandeira.
ResponderExcluirComo é bom nos misturarmos, nos perdemos e nos encontrarmos em outros corpos, já que almas são incomunicáveis...rs
Delícia de texto!
abraço grande
lete
Prima ASS
Imagem casando perfeitamente com a ousadia do texto. A menina transfigura-se e revela-se: mulher. Carne. "Que importa todo o resto e todo o mundo se a tua boca me devora?" - sem comentários. Lindo.
ResponderExcluirUau! Que delicioso texto! Impossível não devorá-lo com prazer. Amei conhecer essa face provocante e sensual de sua literatura. Mais uma vez parabéns, querida.
ResponderExcluirBjos...
“Este texto, publicado originalmente em 2008, realmente é especial. Também para mim.
ResponderExcluirA prova viva de que escrever é um “algo” que se desprende da vontade do escritor.
Foi devidamente avaliado pelo Davi, do jeito que eu o fiz:
Sexo. Puro. Limpo. E só.
Sem explicar nada. Sem mentir amor. Sem temer a perda.
Também amo este texto e por isto fiz questão de postar aqui.
Aos leitores desavisados informo que aqui é um laboratório literário cuja critica do leitor é elemento fundamental.
Eu não pude me esquivar de ouvir meus amigos criticarem este texto e perceber o que ele causa.
Talvez o comentário da Reina, discretamente enviado por e-mail, seja o que mais condiz com o que este texto nos causa assim que acabamos de ler.
“PORRA!”.
Sem medo de ser feliz:, tem horas que um bom palavrão explica tudo.
Aspirina Klas.
Eliana Klas.”