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Mostrando postagens de junho, 2011

O espirro do anjo

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Gilson Rodrigues Eliana klas Secretária Hoje, ao sair de casa, pude por alguns minutos observar meu vizinho pintando as grades do portão de sua casa. Casa onde mora com sua esposa e seu filho caçula. Enquanto eu o olhava minha mente foi inundada por recordações de uma infância que parece ficar cada vez mais remota. A casa dele, assim como é a minha, pertence a sua família a mais de três décadas. Faz tanto tempo... Mas olhando-o lembro que já fui criança um dia. O mandamento de me tornar como uma criancinha ou não verei o reino dos céus parece ter sido esquecido por mim há muito tempo. Olhando-o lembrei de alguns poucos dias nos quais eu ser uma criança não era feio. Sim, pois tem pais que ‘teimam’ em criar seus filhos não para serem adultos honrados, mas como se já fossem adultos. Olhando meu vizinho hoje cedo eu me lembrei – me do pai dele: Senhor Vicente... ‘Seu Vicente’, para os íntimos, o caminhoneiro da ‘cegonha’. Todos que moram a mais de 20 anos na Rua ‘da Biquinha’ l

Sobre a ciência e o saber

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Yeondooo Jung Arlete Mendes professora Nunca fui boa em Química, o que eu gostava mesmo nesta disciplina era de ver as infinitas combinações entre os radicais gregos e latinos nos nomes dos compostos, orgânicos e inorgânicos, também gostava de ver toda bela, colorida, quadriculada e grandiosa tabela periódica, que cobria quase por completo o quadro verde-fosco. A professora, que fique bem claro que isto nunca partiu da vontade do alunado, queria realizar uma feira de ciências. Separou os grupos. Sugeriu os temas e até algumas experiências. Não sei como, mas inventei de falar sobre a água oxigenada. Acho que pela acessibilidade. Tinha desse material em abundância em casa, minha mãe era cabeleireira. Quase uma alquimista, portanto. Além disso, achava mesmo muito curioso vê-la espumando em cima das minhas feridas. Ela também descoloria meus pelos e me deixava pintas brancas nas pontas dos meus dedos. Fiz algumas experiências para testar sua espumosidade em diversas matérias. Descob

Não fale sobre a França!

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Kamicaro - Egil Paulsen Regiane Santos C. de Paiva Professora Há alguns dias, fui pega de surpresa. Talvez, a exceção de meu marido, ninguém tinha sido tão franco comigo. É certo que, quando adultos, nos entregamos ao fingimento e mascaramos o real com uma suposta cortesia. Isso ocorre porque ser sincero demais pode resultar em constrangimento. Melhor rir amarelo e fingir que está tudo bem. O caso foi que, o danado que me fez calar tem apenas 7 anos de idade. De início, confesso, fiquei meio sem graça, mas não chegou a despertar em mim um sentimento de indignação, nem a resposta dele me levou a pensar que estaria sendo mal educado. Pelo contrário. Fiquei recolhida no meu silêncio, envergonhada, mas, ao mesmo tempo, maravilhada pela inocência e transparência com que ele manifestou a sua vontade. De verdade. Ele havia passado em torno de 5 meses na França com os seus pais devido aos estudos de pós-doutorado que ambos se submeteram. Quando retornaram, o assunto não poderia ser outro.

Exótico e óbvio

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Mulher Chorando - Pablo Picasso José de Paiva Rebouças Cronista                             O que aconteceu com Bruna Lombardi, Xuxa, Paula Burlamaqui, Ana Maria Braga? Por que essas mulheres insistem numa beleza que não lhe pertence? Por que congelar a imagem tornou-se para elas uma regra? Desde que inventaram a cirurgia estética e o botox que a mulher nunca mais foi a mesma. Surpreendo-me quando ouço algumas dizerem que “esperam a idade para entrar na faca”. As crianças de hoje lamentam não terem idade para as cirurgias e as adolescentes, antes de terem o corpo formado, se deformam com silicones e maquilagem. Há uma contradição nesse modo de viver: quer-se envelhecer quando não se deve e morrer jovem quando não se pode. A pressa de viver tem levado a juventude para a degradação dos químicos. Quando não é o álcool ou outras drogas, são os produtos para o rosto, corpo ou cabelo. Mas nem isso é suficiente, porque nada faz da mulher uma fotografia. A corrida pela aparência não reso

Boinho

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Mote : Eu vi o seio da lua amamentando uma estrela A poesia de Boinho, poeta remanescentes da grande era de Assú – RN, a terra dos poetas. Gravado durante festa de São João, padroeiro do município. José de Paiva Rebouças

O beijo

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Beijo - Toulouse-Lautrec ”Quem não beija é como um morto”. Johann Goethe          Foi com um solene beijo que Judas, o discípulo intelectual dentre os 12, entregou seu Mestre à sanha dos inimigos. Na Idade Média selavam-se acordos com um beijo, nada mais emblemático do que um selo na boca. Os jogadores de futebol, os menos preconceituosos, beijam-se uns aos outros na comemoração do gol, o supremo momento, quase um orgasmo pela vitória iminente.          Ele, o beijo, há 1.500 anos já era motivo de fofocas na Índia, pois lá estão os registros, ainda, nas paredes do templo Khajuraho, mencionando pessoas que se beijavam. O que não se pode provar é se os beijoqueiros praticavam a modalidade que todos nós apreciamos, dentro do templo ou noutro local. Em sendo mexericos, supõem-se que tais leves sucções terem acontecido dentro do lugar de respeito!          Escreveu Julie Enfield, o gostoso livro A História Íntima do Beijo. Há relatos, meio científicos, não completamente provados, de

O sequestro do santo

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Procissão - Sadi Naif Quando li Tieta, romance de Jorge Amado, foi inevitável associar Sant’ana do Agreste, cidadezinha onde a história acontece, a Apodi, pois assim como lá, por aqui tudo também é novidade que passa de boca em boca e se tem uma pitada de malícia ou infortúnio nos acontecidos ai o disse me disse fica mais divertido ainda. Muitos até exultam numa alegria quase perversa de ser o primeiro a contar e por tanto regalar-se em sua maldade até deixa de perceber a suavidade do beija-flor pairando lindo na sua fragilidade para alimentar-se da flor porque aproveita o momento em que o homem predador distrai-se nas suas confabulações. Eu, nascida e criada por estas bandas, certo dia deixei de atentar para tais minúcias e fui alimentar essa face esquisita que sei não é só minha e a novidade que percebi e até incrementei com astuta imaginação deu-se assim:As pessoas começaram a chegar na praça com suas melhores roupas. Perfumadas e sorridentes, aguardavam com paciência rel

Carência

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Sofrônia - Lutero Proscholdt Davi Moura Publicitário Quando ele entrou na sala eu já estava sentado à mesa há muito tempo. Quis reclamar o atraso, mas, como eu ainda me mantinha são, era melhor ficar calado. Alto, barbudo e com um nariz torto, oriundo de uma das brigas de rua de seu tempo de mercenário, depositou sua mala surrada em cima da mesa e começou a contar o dinheiro. Diverti-me com um pensamento de um episódio de Pica-Pau, no qual ele dividia a comida com outro personagem, de modo que ele ficava com tudo no final. Ele jogou uma nota de vinte amassada que tirou do bolo desigual da sua mão. Logo depois mais outras duas notas de vinte. Uma nota de cem. “Ai está pelo serviço!” no final de tudo. Recolhi meu dinheiro sobre a toalha que um dia foi vermelho-sangue e saí pela porta dos fundos do bar, tudo conforme manda o figurino. Eu era feliz. Eu era estupidamente feliz. E não admito que alguém me diga hoje, clichês do tipo “você tem que superar o passado”. Sinceramente, é me