Saudades de quem eu amava

Muchacha dormida- Jan Vermeer


Professora

Há dias estou querendo falar sobre isso e não consigo. Mas, hoje, chega! Vou falar! Meu peito anda apertado, sofrido, sangrando, querendo gritar de dor. Como dói não ter mais você comigo! Sinto muito a sua falta. Sinto mesmo!

Quantas vezes, na calada da noite, flagro-me chorando sua ausência! Em outras me pego num bobo sorriso, movido pelas lembranças de tantos momentos felizes que juntos vivemos. Sem você, sinto-me desprotegida feito um cão sem dono, perdida como Teseu no labirinto e cansada, sem forças, feito um folião na quarta-feira de cinzas.

Dizem que a saudade é uma palavra que só existe na Língua Portuguesa. Pode até ser. Mas duvido que o Aurélio consiga traduzir em palavras o que eu sinto agora. Na gramática, ela é um substantivo abstrato, mas em mim... Ah! Em mim, é algo bem concreto e real! A saudade que me maltrata tem nome, sobrenome CPF e RG. A saudade que corrói minha alma tem endereço, telefone, e-mail e até perfil no Orkut. A saudade que trago, aqui em meu peito, tem a cor da sua epiderme, o som da sua voz, a maciez da sua pele, o calor do seu corpo e o inesquecível sabor dos seus beijos.

Onde estão os grandes cientistas que não inventaram ainda um antídoto, uma poderosa aspirina para curar a dor da saudade? Há horas em que a vontade que tenho é de desistir de tudo. Quero morrer. Quem sabe assim essa agonia dolorida, vagarosa e constante que tanto machuca meu peito finalmente adormeça e se finde.

Gostaria de poder quebrar as ampulhetas da vida, voltar no tempo e ter você de novo em meus braços. Sentir seus afagos, seus carinhos, seu amor. Como era bom ser despertada por seus doces beijos e, ao abrir os olhos, ainda sonolentos, me deparar com o sorriso mais belo que minhas retinas já puderam fotografar! Que saudades dos seus olhos brilhantes, me fitando enamorados como da primeira vez! Quanta falta meus lábios sentem de seu suave e apaixonado beijo, antes de sair para o trabalho! Ainda guardo na boca o seu gosto, uma afável mistura de café e paixão. Como me dói não ter mais seu abraço apertado já saudoso, antes mesmo de eu partir! Como machuca não ver mais, a cada despedida, aquela teimosa lágrima em seus olhos que, com meus beijos, tantas vezes ajudei a enxugar! Por onde andarão agora aquelas mãos que tanto percorreram meu corpo em busca de prazer? Sim. Aquelas mesmas mãos que só adormeciam entrelaçadas nas minhas, como se a um só corpo e a uma só alma pertencessem. Que saudade de deitar em seu colo e feito criança adormecer sob seus dengos e cafunés! Estou carente de suas juras de amor, de suas ligações no meio do expediente só pra ouvir minha voz e de minha caixa de mensagens abarrotada de seus torpedos grafados de insistentes “eu-te-amos”.

Ah, eu já sei! Aposto que vai dizer que está aqui e nunca vai me deixar. Não. De nada adianta tentar me convencer de que estou louca, por sofrer a ausência de alguém que se encontra a apenas alguns centímetros de mim. Hoje, o que sinto é falta. Falta do olhar, do beijo, do sorriso, do carinho, das manhãs, dos dias e das noites. A saudade que sinto agora é da pessoa que eu amava. Não da pessoa em que você se transformou.

Comentários

  1. Vc anda cutucando minhas feridas, hein, menina? Uma pena as pessoas não manterem suas essencias e perderem peço pelo caminho o q havia de melhor. Eu passei 12 anos tentando encontrar o menino por quem eu havia me apaixonado, mas ele não existia mais, demorei mto tempo p perceber. Uma pena, pq me magoei mto. A eterna espera do q não vem...é triste...é solitária...é em vão.
    Apaixonante tua escrita.
    Parabens, minha linda!

    Um xero

    Lete.
    vulgo
    Prima ASS

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  2. Acabo de postar uma mensagem, mas não tenho certeza se deu certo.
    Segunda volto, se ela não foi comento de novo, pois o tema me instigou!
    Beijos minha professora ASS.

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  3. Narrador personagem? Este não tem gênero, tem coração...

    Saudade? quem nunca foi massacrada por ela que atire a primeira pedra...Sofri muito de saudade do meu esposo quando, quando namorados, eu não podia vê-lo com a frequência que queria... vivíamos destruídos pela distancia... Agora, juntos, ainda sinto saudades quando- no início da noite- dá a hora de ele chegar e ele não chega...

    Certamente,a pior saudade seja aquela que se sente por alguém que vai perdendo a sua essência ao longo do caminho... Eu, por exemplo, tenho saudade do meu pai da minha infância. O de hoje, é alguém que estranho muito...

    Abraços!
    Reina.

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  4. Impressiona como você, em um texto simples (no modo de dizer) consegue sempre dar duas dimensões - do comum ao surpreendente, mantendo um único fluxo de consciência: narrativa que brinca com o narrador personagem na concepção da metáfora. Muito bom ler seus textos.

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  5. Mulher é um bicho intenso demais. É um monstrinho sábio com várias cabeças espertas que demonstram emoções em jorros. Tenho orgulho das minhas aspirinas com um texto desses, especialmente por saber que muitas mulheres adorariam poder ser eloquentes com seus sentimentos assim e não conseguem. Orgulho!

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