Briga de Instrumentos
Capoeira - Carybé |
O nome de nascimento era Hildebrando Soares de Amorim, natural de Macau, mas que viveu em Areia Branca até os sessenta e poucos, quando se mudou para Santos. De apelido, Alicate. Era porque tinha as pernas cambotas, à feição mesmo de um alicate. O apelido lhe foi dado por Costinha de Horácio, quando ele trabalhava de garçom no bar dele, aqui em Mossoró. Pegou, e ele ficou sendo Alicate.
Tinha uma voz bonita, potente, e quando o bar fechava ali por volta da meia-noite, Alicate ganhava a zona do meretrício com os demais garçons de Costinha. Esse destino da noite que parecem ter os que cantam bem, ou tocam violão. Tinha boas amizades aqui em Mossoró - tudo que era gente importante da clientela de Costinha. Médicos, advogados, políticos. Cantava bem, e era tudo que se pedia.
Uma particularidade - não era de agüentar pau no ouvido, e topava qualquer parada mesmo, fosse quem fosse o valentão. Nisto, puxou ao tio Cirilo Raposa, também de Macau e também cambaio, que na briga, de punhal, com um sargento da polícia, na beira do cais em Areia Branca, matou e foi morto. Foram enterrados lado a lado no primeiro cemitério de Areia Branca, onde é hoje o bairro Somoban.
Mas estava dizendo que Alicate foi garçom do bar de Costinha de Horácio, e tinha outro garçom com o apelido de Martelo, também dado por Costinha, este por causa de ter a cabeça grande chata. Costinha dava a todo garçom um apelido, que logo pegava. Queria muito bem a Alicate, entre outras razões, a do seu interesse comercial - cantava muito bem, de modo que era muito solicitado pelas mesas.
Quando foi um dia, que foi uma noite, enquanto fechavam o bar, os dois, Martelo e Alicate pegaram uma briga, quebrando tudo dentro do bar. Martelo levando desvantagem às cabeçadas de Alicate, sua especialidade nessas horas. Um médico tomando a "saideira" ainda tentou apartar, mas Costinha, do outro lado do balcão, chupando seu charuto - "Não se meta, não, doutor, que a briga é de instrumentos".
[Autor Convidado] José Nicodemos é cronista, filho de Areia Branca/RN e radicado em Mossoró/RN. Autor de “A velhinha de preto” é cronista há mais de uma década no Jornal de Fato.
Encantador!
ResponderExcluirNuma linguagem mto própria traz referencias de um sertão, q apesar das transformações, matem traços incorrompíveis. Lugar mágico para mim.
Obrigada por compartilhar esse texto conosco.
um abraço
lete
prima ASS
Seu Nicó, com suas palavras coloridas, vai pintado um universo trágico-cômico quando coloca frete a frente o Alicate e o Martelo. Acredito que esses apelidos foram escolhidos a dedo e se encaixam perfeitamente a alguns cidadãos que insistem em agir feito instrumentos...
ResponderExcluirRegiane.