É preciso mudar


Guto Cassiano


Secretária

Por mais que neguemos, a política faz parte do nosso dia-a-dia.
Não falo da política partidária.
Era criança quando percebi que fazemos política o tempo todo:
fazemos política com os coleguinhas na escola quando definimos nossos representantes de sala;
a mamãe faz política na feira quando define a banca onde é mais bem tratada e onde o direito de ter o “tomate mais fresquinho” é respeitado;
e fazemos política na vida quando elegemos pessoas para fazerem parte de nossas decisões.

O fato é que não há como fugir da política.

Também quando eu era criança decidi que não queria saber de mudar o mundo, a sociedade ou o que quer que fosse exigir minha vida e até minha alma.
No fundo eu sempre achei que esta coisa de querer mudar o mundo era uma gigantesca fogueira de vaidades onde o que queremos mesmo é deixar nossa marca por onde passamos.
A letra de música que diz “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada!” ficava ‘quicando’ no meu cérebro.
Assinava abaixo-assinados, participava de reuniões para conseguir que nosso esgoto fosse encanado, mas sempre tive pavor a liderar grupos ou me por a frente em qualquer dessas situações de bairro.

Minha natureza não é para “meio-termos”:
Se sou, sou toda,
Se vou, vou inteira,
Se me jogo, pulo mesmo, sem medo do que tem embaixo...
Portanto desde sempre eu soube que se me envolvesse com algo seria para me atolar.

E eu não quero me atolar em coisa alguma.

Hoje faço parte da tal classe C, esta gente que tão bem descreveu a matéria de Soraya Aggege na revista Carta Capital Ano XVI nº 644, pagina 18: “multidão de emergente que acorda cedo para trabalhar, lota as faculdades a noite, come macarronada no domingo, ao som de Ivete Sangalo e ainda reserva uma parte do dízimo...”

Eu não escuto musicas da Ivete Sangalo (meu gosto musical é outro), mas ainda assim me enquadro bem na descrição destes “jovens mais educados e conectados que são formadores de opinião da família.”

Também não me enquadro ao termo “fazem parte de igrejas neo protestantes”, estou mais para ser Bahá’i, crença que pouco conheço, mas de quem tomo emprestada uma filosofia que é algo no qual acredito profundamente:
“O homem é uma mina rica em jóias de inestimável valor, mas só a educação poderá revelar seus tesouros”.

O acesso a educação de qualidade é o caminho para a mudança.
Educação de qualidade que vem sendo negada, descaradamente, a população de baixa renda.
A escola publica de São Paulo é o atestado de que nossas lideranças querem que nossos jovens continuem amordaçados pela falta de conhecimento.
Nossas taxas de alfabetização e de escolaridade só existem para inglês ver.

Hoje mais que nunca é necessário exercer nosso papel de formadores de opiniões e alertar a classe emergente que é preciso seriedade para escolher seus lideres.
É preciso que o exercício da democracia seja feito de maneira plena e que cada um de nós entenda o valor inestimável do próprio voto.

Costumo dizer que não dou a mínima para saber em quem as pessoas votam, mas exijo de que quem vive perto de mim saiba os motivos do seu próprio voto.
Votar em quem representa interesses que não são seus é o mesmo que jogar fora toda luta por democracia.

Por mais que eu fuja de política partidária não posso me furtar ao meu dever cívico de conhecer o trabalho daquele ou daquela que levará o meu voto.
Sou moradora da periferia de São Paulo, e francamente não tenho a menor idéia do que passa na cabeça de gente que, morando lá como eu, elege, há tantos anos, uma mesma “gente” para nos governar.
Gente que não nos olha. Gente que nem sabe quem somos. E pior, gente eleita com voto da minha gente.

Ano que vem é ano de eleição.
Espero que a classe C perceba o poder de decisão que tem nas mãos.
E que a decisão seja por MUDANÇA.

Comentários

  1. Questionamentos que nos fazemos sempre... quando tudo vai mudar? Às vezes, só a desesperança é companheira. Bom texto.

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  2. Exerce-se a política, também, através de textos que ganham a dimensão além de mim, como o seu, por exemplo. Na educação, esse fazer-se político o conheci através da figura linda de Paulo Freire.
    Abraços querida!
    Regiane.

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  3. Sinto a influência do nosso urubu-mor nesse texto. Por um minuto esqueci que era da Klas e viajei nas palavras. Sua veia naturalista não te abandona. Já te disse que isso é algo que adoro no seu texto.

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  4. Cutucões são sempre bem vindos. Parece q por mais q falemos não chegamos aos ouvidos. Mudança é algo necessário. Aliás, acho q é algo q todos de alguma forma espera, só não sabemos como...
    otima cronica com uma pegada jornalistica.Parabéns...
    Um abraço
    Prima Ass
    lete

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