Teu corpo


Pino Daeni


Até que em fim eu descobri que o que eu quero mesmo é teu corpo. Que o que nos une é o seu corpo. Que o que eu desejo mesmo é seu corpo.

Até que em fim eu descobri que é a sensação asfixiante de ter seu corpo sobre o meu que enlouquece os meus estímulos e estimula a minha cura e adoece a minha esperança. 

Até que em fim eu descobri que o que mexe comigo é a ideia de um dia jogar seu corpo contra parede a favor do meu corpo e ir tirando a sua roupa em cena de desespero e ansiedade, depois sair derrubando todos os desejos guardados junto com qualquer obstáculo de corpos que tenhamos pela frente.

Até que em fim eu descobri que o meu desejo é ter o seu desejo suando solido, se liquefazendo gasoso e sendo contrário a todos os sentidos que possam vaporizar o cheiro do seu corpo e guardá-lo por infinitas vidas nos fios dos lençóis.

Até que em fim eu descobri que quero é descer a minha boca no seu ventre e prender minhas gengivas nos seus pelos e endurecer os seus músculos e ensurdecer o seu tempo e silenciar os seus pecados.

Até que em fim eu descobri que te quero cru, dorso insular nos poros solar. Quero a ardência, a clemência, o sussurro, o gemido contido escancarado. Te queiro queimando, movendo o cheiro pesado dos seus poros e sacrificando das tuas mãos parturientes o mistério do teu mau jeito de tocar a mesa, de encher o copo, de lavar o corpo, de limpar as marcas e deixar as manchas para lembrar de tudo o que não aconteceu depois.

Até que em fim o teu corpo sobre mim, dominando o meu até que eu morra como uma pluma cortando o vento. Até que eu caia ao solo e saia rasgando as camadas de areia que protegem a água do ar.

Até que em fim você em mim. Movendo os músculos, vibrando a alma, fechando os poros. Provocando um orgasmo de emoções, movendo a face e lavrando os caminhos até não pulsar mais. Ah, se meu corpo pudesse agora cobrir o teu. Tecer fios de fibras libertos de lã.  Urdir o pulso de quando não se caminha mais. Sangrar e se arder até a queimar.

Até que em fim nós dois em nós, descoordenando a ebulição, desmatando o verbo, desalinhando os círculos, nos eletrificando até não existir finalmente. Até que enfim, um cálice de anestesia. Tuas coxas, tuas vírgulas, tuas reticências.

Vem-me sentir entre os espaços que o que eu quero mesmo é teu corpo – com amor ou não.

[AUTOR CONVIDADO] Larissa Gabrielle Araújo é publicitária e está ger. de marketing do Jornal de Fato e Assessora de Comunicação da Prefeitura de Mossoró. Continue lendo: www.larisaraujo.blogspot.com. Siga no twitter: @larigabi

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

HOMEM DE PALHA [Ensaio sobre o palhaço]

Minha amada bruxa

O mimo que ele não trouxe