Amor é almoço. Sexo é sobremesa

Iva Tai


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        Começar criando uma frase criativa em cima de uma das musiquinhas famosas na voz da vermelha Lee é fácil. Não precisa ser muito mundano para concordar com o título deste texto sem pretensões. Relacionamento é um assunto que faz até o mais sério dos intelectuais se abrir, nem que seja nos modernos 140 caracteres.
        Minhas intenções na construção deste texto são todas, menos literárias. Quero que ele sirva como guia (ou como inspiração) para os mais apaixonados ou os mais céticos para enxergarem que é o amor que move o mundo. Pra frente ou pra trás. Mas move.
        A primeira situação se passa em uma festa de aniversário surpresa. Que só funcionou 70%. Ele, jornalista, revolucionário e meio caboclo velho do mato. Com seu charme, claro. Ela, só sorrisos, com uma língua virada de tamanduá argentino, de tanto espalhar seu español como perfume doce de violetas. Festa, riso, bolo de chocolate com coco. Suco de cajá para os mais frescos que não encaram uma cerveja gelada. Ao final nos agradecimentos, ela diz:

        - E eu só posso agradecer a este homem que eu achei que só existisse nos meus sonhos!

        Ele, mais do que envergonhado com a demonstração espontânea de amor, derrete-se todo em uma dancinha estranha para chamar mais atenção a ela do que aos seus olhos lacrimejantes e maçãs vermelhas. Se não de amor back, mas de vergonha.
        Duas pessoas diferentes, dois mundos diferentes. Antônio e Karina por acaso se encontram em uma parada de ônibus. Prova mais viva de que homens vêm de Marte e as mulheres já estavam na Terra. Seres tão diferentes quanto 1 kg de palha e 1 kg de ferro. Mas a cola mística do amor os transformou em um único ser.
        Clichê?
        A segunda situação é com um jovem senhor com seus trinta e muitos anos. Desiludido do amor, porém com uma segunda cabeça pensante (e pulsante) no meio das pernas. Homem tem disso mesmo. Como diria a Guimarães no hilário Cócegas: “Olhou pra minha bunda? Já peguei!”. Um dia, sem mais nem menos, conhece um velho rapaz com seus vinte e poucos e em menos de três horas ele vira o amor da sua vida. Não que ele soubesse disso no momento. Dois meses depois, o rapaz idoso exige:

        - Diga que não está apaixonado por mim.

        - Eu não estou apaixonado por você. – O jovem senhor, ranzinza com a idade, responde.

        E acaba aqui? Não. O ranzinza estava apenas descobrindo que quando é de verdade, ele vem avassalador. Destrói tudo com a força da Katrina tempestuosa. Logo ele agradece a Deus e pensa que não poderia estar mais feliz.
        Em um terceiro caso, sempre tem aquela mulher bem sucedida, rica, fina, educada. E com uma puta dor crônica de cotovelo. O meu amigo é o amor da minha vida, mas ele está com outra. Ele não está comigo porque eu simplesmente não me declarei logo.

        - E porque você não se declarou logo?

        - Porque ia acabar com tudo.

        Ai sempre tem um engraçadinho que aparece e diz: “você perdeu o amor da sua vida por medo”. É quase uma bomba de kriptonita na cabeça do Super Homem. Resultado: bêbada, jogada na garagem da casa, dormindo no banco de trás do seu Sonata e ainda babou em quase todas as páginas daquele documento de aquisição do seu último duplex.
        O amor move montanhas. Mas ele também sabe andar de ré.
        Tem gente que abre a boca pra dizer que vida de adolescente é fácil. Na cabeça deles nunca é. E que tal achar uma criatura de 17 anos, com plena noção da beleza e inteligência que possui, com seu plano de vida totalmente traçado (e nele não há tempo para amar) que abre a boca e diz, em plena fase de amor infinito:

        - Quero distância de relacionamentos. Nunca se sabe quando vai se achar algo melhor.

Alguém avisa pra ele, por favor, que no amor dá pra brincar de Banco Imobiliário. Se ficar pobre, você sempre pode começar de novo.

A vida te põe de volta no jogo com as mesmas oito notinhas de cem que você começou.

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Amor é almoço. Sexo é sobremesa de Davi Moura é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported. Based on a work at www.aspirinasurubus.blogspot.com.br. Permissions beyond the scope of this license may be available at www.blogadorocomer.blogspot.com.

Comentários

  1. “Davi, cada texto seu que leio certifica-me de nossa irmandade.
    Só duvido de sua idade. Ou antes, percebo que somos todos anciões na alma.
    Cada linha, cada definição do indefinido estado de amor, me fazia sorrir.
    Cara, a coragem de amar e ser amado, a coragem de errar, a coragem de quebrar a cara mil vezes e mil vezes seguir amando, é a mola que sempre me moveu. Para frente.
    O amor nos joga no chão, muitas vezes.
    Pisa em nossa cabeça, outras tantas.
    Cospe em nós, mil outras vezes.
    Ainda assim eu entendo que é ele a força que move o mundo.
    Para o alto. Ou para baixo. Só depende de cada um. E só depende da liberdade que se der a ele.
    Beijos urubuzinho.

    ASS Klas.”

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  2. Criativo. Inteligente. Observador. Bem escrito. Diálogos pontuais e precisos. Poxa, puta crônica.Agora não tem quem lhe segure. Para o alto e avante! É isso aí pequeno príncipe, você mostra a que veio, parabéns!

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  3. A polifonia é uma das marcas na construção literária do Davi. Ele sabe como ninguem usar essa confluencia de vozes q magicamente mostram a q vieram no texto.

    Parabens, meu anjo

    Um xero
    Prima ASS
    lete

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