Moreno alto, forte e sensual???


Figura Danificada_Werner Buttner


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Minhas linhas foram inspiradas pela minha prima que nem sabe que é prima, Carla Moura, e o seu texto “Namore um barrigudinho”, e por uma conversa que tive com uma nova amiga, a Gaby Bennet. A Gaby é dessas mulheres lindas, inteligentes e que se preocupam com o corpo e com a saúde. É o cérebro da Lúcia Santaella no corpo da Sarah Shahi.
- Mas me diz: qual o seu objetivo?
- Ah, eu quero ficar mais firme. Odeio bomba e não quero bração. Pra mim, homem sem barriga é igual a mulher sem peito. A barriguinha é o charme.
- Hahahaha. Ai que bobo!
Depois que falei isso para Gaby, fiquei pensando no assunto. Fiz um flashback de todos os homens que já admirei na vida, de todos que almejei “ser” ou “parecer” um dia. E NENHUM tinha o padrão de beleza tomcruisiano.
Sempre fui um adolescente gordinho. Não que eu almejasse ser um gordinho para toda a vida. Mas ao contrário de outros com as mesmas características que eu, sempre tive uma habilidade enorme pra lidar com gente, dos mais diferentes tipos. Pra completar o pacote, era considerado um dos nerds da turma.
Andava com uns garotos (que, por sinal, são meus amigos até hoje) e, em pleno ginásio, onde os hormônios começam a aflorar e a gente começa a se definir como um ser social, a divisão era da seguinte forma: o divertido, que fazia todos rirem; o pegador, que já namorava naquela idade tão precoce; e o gordo. Sim. Eu era o gordo. Mas tirava notas melhores e lidava melhor com todo mundo.
Ai fui crescendo. E o trauma crescendo comigo. O primeiro beijo veio aos 17 anos e praticamente foi uma prova de fogo. Na minha cabeça, ninguém nunca iria se interessar por mim: desajeitado, aparelho nos dentes e tímido pra essas coisas. Ainda me lembro da sensação de pânico. Meu eu - lírico falando calmamente ao meu pé do ouvido: “Você vai bater à porta desse quarto, vai entrar e vai ficar com essa garota, A-G-O-R-A”. Fui, fiz.
A aceitação veio com o tempo. Acabei me assumindo como um gordinho gostoso e desisti das neuras do corpo perfeito. Analisando cientificamente, o ser com sobrepeso tem outros dons para conquistar as pessoas. É que a gente exercita o cérebro – o órgão sexual mais potente já criado.
Quero deixar bem claro que não tenho preconceito com gente com corpo escultural. É super saudável e corajoso, da parte delas, disponibilizar tanto tempo assim para cuidar do envelope. Claro, não posso ser hipócrita: quero deixar meu envelope mais bonito. Mas o que eu prefiro mesmo é aumentar as linhas da minha carta. E se o envelope vier vistoso e com uma carta esplêndida, melhor ainda!
Parei para analisar, junto com uma amiga que curte outras amigas, a beleza feminina. Chegamos à conclusão que a MELHOR costela já retirada do homem foi a mulher. Outra conclusão que chegamos foi: mulheres bonitas, que sempre foram bonitas, sabem que são bonitas e se aproveitam desse fato. Não é errado. É apenas um dom que elas receberam e tem que aproveitar sim.
Só que existe outro tipo de beleza que chama muito mais atenção. A beleza do sorriso sincero, da simplicidade, da humildade. É algo como: “Sei que sou bonito, mas não me importo muito com isso”. O ato do desapego à beleza física é algo muito mais sexy do que qualquer outra coisa.
Ao mesmo em tempo que acontece esse desapego, outros tipos de beleza são valorizadas. Conheço uma senhorita que adora um empresário:
- Meu filho, eu quero ser madame! Quero que um rico empresário se apaixone por mim e quero passar horas na academia e nas compras.
Outros dois amigos que também gostam de amigos trocavam umas palavras bem engraçadas:
- No início eu achei que eu gostava mesmo era de homens mais velhos. Mas depois de um tempo vi que eu preferia um gordinho.
- Ai amiga – velha brincadeira com o gênero típica entre eles – agora entendi tudo! Por isso que te vi rodando a bolsinha lá perto do Emagrecentro!
Mais um companheiro do clube dos cafajestes diz, no tom mais canalha possível:
- Ontem tracei uma loira gostosa pra caramba! Tinha uns peitões assim, ó – e imita o tamanho do dote da parceira com um par de mãos desajeitadas, ainda meio trêmulas por causa da cana da noite anterior.
No meio de uma sessão de fotos em um dia atribulado de trabalho, todas as teorias sobre beleza e atração vão por água abaixo por causa de um simples comentário. Ainda mais vindo de uma mulher cuja principal característica é a independência e a personalidade forte (solteira, só pra constar). O cachorrinho da madame (casada e feliz, diga-se de passagem) ao ser fotografada, corria para lá e para cá procurando o seu “pai” humano (bonito, rico e bem-sucedido).
- Nossa – diz alguém na sala – ela é fissurada em você!
Do outro lado da sala, a mulher independente diz, de maneira irônica, mas com uma tristeza quase imperceptível aos ouvidos mortais:
- E eu só queria alguém que fosse fissurado em mim...
Daí a gente vê que tudo que alguém precisa, mesmo como todos os fenótipos e genótipos pré-definidos, é um afago e a certeza de um abraço confortável e carinhoso depois de um longo dia.    


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Comentários

  1. Noiiiiivo ameiiiiii ta otimo o texto, você manda muitooo!! Quero ver esse projeto continuar hein?? Gatissimo!! bjos Gaby

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  2. O q mais me surpreende nos textos do Davi e a capacidade de captação e de confluencia dos mais variados tipos de discurso. Uma cronica polifonica, sim sennhor!
    Fantástico.

    bj grande

    Prima Ass
    lete

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  3. Eita! Sua competência com a crônica está cada vez mais aguçada! Vc pega um mote e faz arte! Maravilha de texto!
    Acredito que o seu texto, o de Paiva e o da Rokátia (sobre a beleza)estão correlacionados pela interdiscursividade, pense!

    Adorei!
    Reina,

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  4. “Davi, você sempre se supera diante dos meus olhos.
    Parabéns, mais uma vez!
    Beijos aspirinicos de sua mana-gêmea”
    Klas

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