A primeira impressão sempre fica

Naná Hayne

Sabe aquele termo “a primeira impressão é a que fica”?

Pois é.

Uma das impressoras do escritório é super “ligada” nestas coisas de “ditado popular” e resolveu incorporar este aí.

Pena que ela não é lá muito boa em interpretação.

Ou pior: adéqua malandramente qualquer “frase de pára-choques” à sua rotina sádica.

A sujeita não dá a mínima para o significado da frase. Ignora o termo que nossas avós usavam como conselho para que cuidássemos dos primeiros contatos com os outros e que hoje, é usado aos montes em qualquer aula de marketing pessoal.

Ela, a impressora, usa o termo no sentido de “engolir” e mandar para a “terra do nunca” todo documento que eu tento imprimir nas primeiras horas da manhã.

A Aninha, minha colega, sempre diz: 
- Eliana, a primeira impressão é a que fica. Não se esqueça!
- Grunffff!!!!!!!!!!!!!! Resmungo eu, do outro lado da sala.

‘Tá’, sei que devo dar um desconto a esta brava guerreira que conta sabe-se lá com quantos anos de trabalho suado (melhor dizendo: ‘tintado’), mas tenho cá minhas desconfianças que esta lutadora é tudo menos uma senhora de respeito. Pelo menos segundo o conceito dos meus avôs.

Ela é cheia de taras e manias.

Nada contra as taras de cada um, mas lembre-se que estou narrando segundo a ótica dos meus avôs, que são de uma época que o conservadorismo (ou, em alguns casos a hipocrisia) vinha em primeiro lugar. Pois bem. A sujeita adora me maltratar e muito mais que isto adora ser maltratada.

Percebam: ela é sádica.

Adora maltratar esta pobre alma que vos escreve.

Para chegar ao meu local de trabalho passo por uma verdadeira epopéia, digna dos grandes contos mitológicos,. (Quem atravessa qualquer metrópole em transporte público sabe do que estou falando).

Pois bem, depois de ‘penar’ por 2 horas até chegar ao meu trabalho eu luto bravamente contra o mau humor e, quase sempre, venço.

Isto é, se eu não precisar usar esta sujeita que fica pairando sobre minha cabeça (sim, ela fica em uma prateleira na parede, sobre minha mesa). Se eu não precisar dela passarei o dia feliz, utilizando os serviços de Maria Helena, nossa Super Impressora.

Porém, se eu precisar imprimir etiquetas e pedir ajuda à ... à... à... à (eu tenho infinitos problemas com a crase, podem deixar uma só, ou como entenderem ser melhor) ‘Brava Senhora, me ‘ferro’, e apanho dela como uma cachorra até perder a paciência e arrancar meus próprios cabelos.

Ela? Malvada, sorri do seu pedestal.

Além disso, é masoquista: adora que eu a xingue e só funciona direito depois disso!

Quem me conhece sabe que costumo por nome nos meus aparelhos eletrônicos, pelo menos nos mais usados por mim, e até mesmo em alguns móveis. Notem que chamo a Super Multifuncional de Maria Helena.

Pois bem, a digníssima impressora da qual conto hoje a saga não pode ter nome.

Já tentei de tudo:Alice, Ana, Jocasta, Teresa, Joaquina, Marianinha, Suzana, Patricia, Miquelina, Augusta, Amélia...ANTA!!!! SUA MULA VELHA, ZEBRA MAL PINTADA!. FILHA DA P.................Pronto! Falei a senha! Agora a impressão sai p e r f e i t a como se nada houvesse acontecido.

Juro que não tenho por habito berrar palavrões, mas há muito tempo eu, confesso, que sussurro vários aos ouvidos dessa criatura perversa que me olha de olhos cerrados e que com a boca escancarada cospe a impressão sobre mim... Mas assim: só depois que eu a xingo!

Já ouvi dizer que todo objeto e/ou pessoa tem “energia própria”, que devemos cultivar “bons fluidos” sorrir placidamente quando o “Titanic” está afundando e “acreditar” que tudo dará certo.

Devemos acariciar as flores, conversar com as plantas, rir para os passarinhos e saltitar pela vida como camponesas felizes. Desta forma estaríamos atraindo toda sorte de “boas vibrações”.

Pois bem, a ‘Vagab....’da velha impressora não sabe disso.

Ela acha que deve “engolir a primeira impressão” e só me recompensar com ela quando eu tiver externado o mais podre que há em mim.

Assim terminamos.

Eu: ferida, descabelada, suada, suja de tinta e com o humor destruído.
Ela: impassível, sorrindo e parecendo dizer, lá do alto: “dane-se a impressão que causo”. 

Secretária



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Comentários

  1. Hahahahahahaha!
    Olha a Klas perdendo a compostura!
    Bom saber que todos nós explodimos de vez em quando com coisas supérfluas. Adorei! Ri demais!

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  2. Klas, essa sua impressora parece bastante com a de uma escola em que leciono. Seriam elas irmãs, primas, parentes? Ou seriam almas gêmeas, separadas quando ainda crianças? Há ainda a possiblidade da clonagem, né? (Nossa! Ando vendo novela demais!). Mas fica uma dica que muito me serve nessas irritantes ocasiões em que preciso fazer uso da minha (quer dizer, a da minha escola): finja-se tranquila. Não deixe ela perceber que você está com pressa. Caso contrário, ela acoloiada (bem nosso isso, hem Jotta?) com o amiguinho de infância, o computador, ficam na maior cara de pau brincando de não imprimir. Ô brincadeirinha besta!

    Parabéns pelo texto.

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  3. Eli,
    também costumo perder a compostura quando estes equipamentos começam a não responder aos meus comandos... pense que a minha é um atraso de vida!

    Gostei muito da descrição seguida de um relato agonizante. Senti na veia toda a pertubação através do seu texto trágico-cômico...
    Ótimo querida!
    Abraços!
    reina.

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  4. Klas,

    Me identifiquei mto com a sua impressora. Tem dias q eu consigo tirar os outros do sério, só para ter o gosto de praticar minha maldade diária; hehehehe....Acredito piamente essa porção habita em nós e q se não a colocamos p fora nos sentimos mal conosco. Todo o dia eu pratico o bem, mas não abro mão de cutucar a ferida de alguem...rs
    parabéns!!!

    bj
    prima ASS

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  5. Mesmo em situações de conflito, Klas consegue ser doce. Impressora é um problema para todos nós. Talvez devessemos criar um sindicato contra as impressoras que quebram sempre que precisamos. A aspirina reina que o diga. Aqui em casa, há meses, as duas impressoas estão em greve e não tem quem as tire do prego. O jeito é conviver com elas, fazer o que, assim como as pessoas, são as criaturas.

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  6. Amigos, vejam bem: é uma crônica, risos.
    Eu J u r o que não faço nada disto diariamente...só penso, penso, penso e escrever é meu consolo. Pra evitar de jogar a impressora pela janela, kkkk.

    beijos.

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