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A vida em duas rodas

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Gerchmam- Green bik Arlete Mendes Professora Sim. Hoje transcendi. Andei de bicicleta. Para ser mais precisa, uma volta inteirinha no parque. Em tentativas anteriores havia desistido no segundo quarteirão. Bicicleta prum lado, menina pro outro. Mas hoje não. Hoje vim, vi e venci. Engraçado. Muito engraçado aprender coisas da infância beirando a velhice. Pedia desculpas aos que acidentalmente entrecruzaram meu caminho. Isto me desequilibrava: “É minha primeira vez”, “Desculpe, não tenho experiência nisto!”, “É que nunca aprendi quando criança...” Como se isto diminuísse o impacto das trombadas. Era uma sem noção. Consegui a façanha de cair sem estar na bicicleta, me apavorei num cruzamento, não soube administrar passos, bicicleta e travessia. Deixei-a cair e não contente, caí por cima dela. Pedi desculpas à motorista com um gesto de mão e cabeça. Depois pedi desculpas à bicicleta. Ergui a coitada com a dificuldade do susto. Era mesmo uma sem noção. Sem noção de espaço, sem...

Papéis de cor

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Pintura em papel manchado - Mel Kadel Regiane Santos C. de Paiva Professora Acharam até que nem vingaria de tão magra que era a pobrezinha. Parecia ter bem menos idade do que aparentava ter. Fragilzinha, corpo fino, mãos pequenas, morena clara com longos cabelos castanhos, caídos e leves. Aos 13, apaixonou-se pela primeira vez. O rapazinho da mesma idade morava a um quarteirão de sua casa. Todas as tardes, espreitava pela janela da sala para ver quando ele passasse para o futebol. Não era bonito nem nada. Tinha a cara branca e coberta de espinhas. Ainda assim, lhe encantava a alvura de seu rosto. Numa noite, ele a beijou quando estavam na calçada de uma amiga dela. Beijo melado, alvoroçado, desastroso. Antes que seu pai aparecesse gritando que já passava das 8 da noite, ela o empurrou e correu depressa para casa. Escondeu-se e cuspiu. Cuspiu repetidas vezes. Passou a noite enjoando o gosto dele. Sentiu nojo, raiva, arrependimento. Pensava que aquele momento deveria ser inesqu...

Margaridas da marcha das Margaridas

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Margaridas - Erico Santos José de Paiva Rebouças Cronista         Mãe, o que é as Margaridas?         Coisas da televisão, num sei! Exclamou a mãe que não sabia mesmo.         Não, mãe, as Margaridas da marcha das Margaridas? Insistiu. São flores... sei lá! Já disse que não sei!         A mãe não sabia ao certo, nem queria arriscar, afinal nunca entendeu porque a comadre Zefa fazia tanta questão de gastar dinheiro para ir arranjar confusão em Brasília, quando o problema em questão era peculiar ao povoado.         Mãe, eu posso ir com a tia Zefa ver as Margaridas da marcha das Margaridas? Pediu com olhos grandes a menina, puxando a barra da saia da mãe.         Claro que não, aquilo lá não é lugar de meninas! Latiu a mulher, zangando-se com a insistência tola da criança. ...

E aí?

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E aí, vai? Pra Onde? Você Sabe... O Quê? Não se finja de Burro! Mas eu não sei do que você está falando. Agente já veio até aqui pra você amarelar? Eu não sei... Depois de tudo o que eu fiz você vai desistir? Ainda não chegou a hora. Mas você tem que decidir logo. Não me apresse eu não funciono sobre pressão. Mas é só ir uma vez. Só isso? E se acontecer alguma coisa comigo. Não vai acontecer nada. Mas a Marcela não ficou legal. Ela é fresca, não gosta de coisas mais fortes. Mas como foi sua primeira vez? Nada de mais... Eu já estava esperando. Então porque que eu tenho que experimentar se não é nada demais? Porque você é o único do grupo que ainda não foi. Mas... Fim de papo que já chegou nossa vez. Mas eu não quero ir na montanha russa! VOCÊ VAI!!! Ou eu me jogo lá de cima. Tá bom, eu vou, mas deixa de fazer drama. [CONVIDADO] Yuriloia@hotmail.com

De cima do freezer

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Davi Moura Publicitário         Que lugar mais prosaico a cozinha, não? Particularmente, é meu lugar favorito da casa. Fico a maior parte do tempo aqui. Analiso tudo. Observo todos. A relação do homem com a comida é algo inato. É pré-histórico, na verdade. Desde sempre o homem come. Nosso velho conhecido Adão já comia. Inventou de comer a [maçã] Eva e se deu mal. Mas pelo menos satisfez seu prazer.         Pode não parecer, mas eu tenho um coração. De gesso, leve. Mas bate forte quando presencio certas cenas. Minha pretensão é escrever um livro. Quero ser um escritor de sucesso ainda. Só preciso aprender a usar o computador. E a entender mais sobre o mundo dos homens. O ser humano é um bichinho complicado.         Dona Lena passa boa parte do dia na cozinha, até porque é seu local de trabalho. Chega às 7h, sai às 21h. E não é trabalho escravo. Já percebi que ela adora estar aqui....

Sou Professora de português. Não dicionário

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A jovem professora - Chardin Rokatia Kleania Professora Ser professor, hoje em dia no Brasil, é uma verdadeira aventura. Coisa de verdadeiro super-herói. Primeiro, tem-se que sobreviver com o indecente salário docente. Então, para não morrer de fome, o jeito é correr contra o tempo, feito o Flash, e se desdobrar lecionando em várias escolas. Na sala de aula, ainda temos que usar nossos superpoderes de Supermans e Mulheres Maravilhas e atuar em diferentes funções: psicólogo, assistente social, pai, mãe, tio, amigo, médico, showman, padre, cozinheiro animador de auditório, e, até professor, acredita? Agora, se você é graduado em Letras, prepare-se! Além de tudo isso, todos vão querer que você seja poliglota. Isso mesmo! As pessoas acham que só porque alguém tem graduação em Letras é especialista em português, inglês, espanhol... E não adianta você tentar explicar que sua habilitação é em uma língua apenas, pois eles sapecam um: “Ah, mas você fez Letras, então você sabe!” Não f...

Minha amada bruxa

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Théodore Géricault Eliana Klas Secretária Os cronistas desta semana, aqui no A&U, cutucaram minha velha veia politizada, mas eu, mais uma vez, a ignorei. Não por desmerecê-la. Exatamente por reconhecer-lhe a força, mas principalmente, por ter consciência de que palavras sem ação são palavras mortas. Para não ceder à tentação e falar de política, revi o caminho de meus amigos cronistas e percebi que já era hora de contar sobre a figura medonha de minha rua, em minha infância. As minhas amigas aspirinas, contaram aqui, histórias de seus loucos e de seus medos de infância. Eu também preciso contar a minha. É difícil eu conseguir, ordenar os fatos, os medos e os cheiros, trago poucas lembranças dela. Ou, talvez, o velho medo disfarçado, me impeça de contar os detalhes. De tanto que o medo dela me consumiu, decidi afogá-la, e torço até hoje para que ninguém encontre seu corpo. Vou tentar ordenar os pensamentos com as lembranças que trago dela. Lembro dela brava gritando, mui...